Saiba como evitar que seu barco afunde atracado

Por Mike Telleria – Fotos arquivo/Mariner Brasil

Preparamos 10 dicas de cuidados para evitar que seu barco afunde quando atracado

Um barco não deveria afundar, a menos que algo realmente ruim acontecesse…. Uma colisão, a explosão de um tanque ou ser atingido por um raio, por exemplo. Mas não são essas as maiores causas para tal. A triste realidade é que a negligência de proprietários é o que efetivamente manda a maioria das embarcações para o fundo do mar.

Estudos realizados pela BoatUS, baseados na causalidade dos sinistros informados às seguradoras, fundamentam essa constatação. Dizem que, nos EUA, mais de 2/3 dos barcos recreativos afundam enquanto estão apoitados ou atracados em suas vagas. Somente 35% dos casos ocorre sem a interferência dos proprietários.

“Nenhum barco deveria ir a pique enquanto atracado em um píer”, afirma Daniel Rutherford, diretor de administração de riscos do Maritime Program Group. “O desleixo é a maior causa de naufrágios de embarcações de lazer atracadas em píeres.”

Isso tem um lado bom: com planejamento e cuidado, esses naufrágios podem ser evitados. A seguir, uma lista de dez pontos para manter seu barco à tona enquanto apoitado ou atracado em sua vaga molhada.

1 – A (nem sempre) poderosa bomba de porão

A bomba de porão pode salvar o dia se ocorrer um vazamento atípico, além de ser perfeita para eliminar água acumulada por condensação. No entanto, é comum haver excesso de confiança nela para impedir que um barco vá a pique. “Em nove entre dez casos naufrágio, os proprietários comunicam que a bomba de porão parou de funcionar”, diz Beth Leonard, da BoatUS. “Não foi por isso que o barco afundou.” Se a água entra continuadamente, seja por um vazamento, pelo preme-estopa ou até por uma pequena falha estrutural, por exemplo, não se pode esperar que a bomba de porão mantenha o barco à tona indefinidamente. Ela poderá segurar até que o real problema seja sanado. Caso isso não ocorra, a probabilidade da bateria se esgotar ou da bomba falhar é grande.

O ideal é ter um sistema de bomba de porão com a chave automática em ordem, para que a resposta em caso de vazamento seja eficiente. Trocar as mangueiras do tipo corrugadas pelo modelo específico para a tarefa, que é em náilon reforçado, é recomendável. Outro equipamento que pode ajudar é um contador de acionamentos da bomba, que  determina se o número de acionamentos está normal ou se há um aumento deles, indicativo de que alguma coisa está errada e requer sua atenção.

2 – Muito Frio

Não é um problema na maioria das regiões brasileiras, mas quem se aventurar (e deixar o barco) em países vizinhos mais setentrionais, deve se precaver contra o congelamento da água em tubulações no interior do barco. A água se expande ao congelar e pode danificar mangueiras, válvulas, registros e até rachar o bloco do motor, dando origem a vazamentos, que fatalmente acabarão no porão da embarcação ou, em casos extremos, causarão um naufrágio.

Outro problema comum quando as temperaturas ficam muito baixas é que as baterias podem deixar de funcionar, inutilizando assim as bombas de porão. Se não houver quem verifique regularmente o barco, um ou dois pequenos vazamentos, ou períodos de chuvas alongadas, podem levá-lo ao fundo.

Uma dica: independente da temperatura, verifique ou peça para alguém verificar regularmente seu barco, para detectar a tempo se ele está começando a afundar. É mil vezes preferível ter de lidar com essa situação do que ressuscitar um barco das profundezas do oceano.

3 – Seu barco está cheio de furos

Com toda a certeza seu barco tem alguns furos sob a linha d’água. Desde o bujão de escoamento de água e os furos utilizados para passar sensores até os captadores de água salgada para motor, ar-condicionado e vaso sanitário. Em um mundo perfeito, todos eles estão perfeitamente vedados; no entanto, no mundo real, e com a passagem do tempo, as vibrações, fadiga de material, deterioração de selantes e mangueiras podem resultar em vazamentos. Verifique regularmente todas as ferragens, conexões e sensores instalados sob a linha d’água. Se encontrar alguma abraçadeira com sinais de corrosão, substitua-a. Lembre-se que toda mangueira localizada abaixo da linha d’água deve ser presa com duas abraçadeiras, com os respectivos parafusos de aperto deslocados em 180 graus. Substitua também mangueiras com sinais de desgaste.

4 – Dê a devida atenção às coifas

As rabetas são responsáveis por mais de um quarto dos sinistros relativos a falhas em equipamentos, e as coifas de borracha, as maiores culpadas. Essas peças de borracha flexível selam o eixo de acionamento da rabeta e sua cruzeta, os gases de escapamento e os cabos de comando. Elas permitem que a rabeta possa virar para os lados e ser pivotada, ao mesmo tempo em que mantém a água do lado de fora do barco. No entanto, com a passagem do tempo, elas sofrem desgaste, fadiga e deterioração do material, especialmente quando muito expostas ao sol e a altas temperaturas. Cracas são outros inimigos dessas peças de borracha. A recomendação aqui é para que as coifas sejam inspecionadas com regularidade, e que sejam substituídas a cada três anos em barcos que permanecem na água ou a cada seis anos nos que são guardados no seco. As chances do barco permanecer à tona procedendo dessa forma serão aumentadas em múltiplos de cem.

5 – Gota a gota

Existe uma furação abaixo da linha d’água que merece atenção especial, que é a abertura por onde passa o eixo do hélice nos barcos com transmissão convencional (eixo e pé de galinha). Para evitar que a água entre, muitos barcos possuem um equipamento chamado de preme-estopa, ou gaxeta. Quando ajustado corretamente, uma pequena quantidade de água passa para o interior do barco, para lubrificar e refrigerar o material e o eixo — tipicamente de duas a três gotas por minuto, quando o barco está navegando. Quando o barco está atracado, não deveria penetrar água. Um pequeno vazamento no preme-estopa pode se desenvolver rapidamente e se tornar um grande vazamento, e já sabemos o que acontece quando a bomba de porão deixa de funcionar por trabalho em excesso.

A tentação de se apertar as porcas da gaxeta ano após ano é bastante grande, mas o correto é trocar o material de vedação a cada dois anos, em um barco usado regularmente. Aplique pressão demais e corra o risco de danificar o eixo. Aí sim, o molho sai mais caro que o bife.

Os estaleiros estão substituindo o preme-estopa por selos mecânicos, mais eficientes mas que requerem refrigeração, que pode vir de uma passagem no casco ou do sistema de refrigeração do motor.Certifique-se que as mangueiras e suas abraçadeiras estejam sempre em ordem. 

6 – Trave as gaiutas

Muitos sinistros poderiam ser prevenidos se as gaiutas fossem travadas na posição “fechada” corretamente. Se a gaiuta estiver vazando, especialmente aquelas localizadas no cockpit, onde se acumula a água de chuva, pode ocorrer a inundação do porão e a sobrecarga da bomba. A vedação desse tipo de equipamento normalmente ocorre por meio de juntas de borracha ou similar, que se deterioram com o passar do tempo. Portanto, é uma boa ideia testar a estanqueidade delas com uma mangueira de água com boa pressão. O mesmo vale para todos as outras ferragens de convés, tais como agulheiros de água e combustível, paneiros e tampas de inspeção. Verifique a estanqueidade delas regularmente. 

7 – Cabos de atracação

Onde há variações de maré, o cuidado com os cabos de atracação deve ser redobrado. Caso contrário, o barco poderá ficar pendurado lateralmente pelos cabos e preso embaixo do trapiche, se enchendo de água assim que a maré começar a subir. Saiba os níveis mínimo e máximo da maré para dar folga suficiente para os cabos manterem a embarcação centrada na vaga. Cruzar os cabos na popa, utilizar cabos espringue em toda a  lateral do barco e abusar das amarras em ângulos bastante obtusos são algumas das ações que ajudam a prevenir esse tipo de acidente.

8 – Questão de peso

Frequentemente, vemos barcos com saídas de escoamento de água no cockpit, projetadas para estarem a poucos centímetros acima da linha d’água com o barco carregado. Agora, substitua o seu velho (e leve) motor de popa dois tempos por um quatro tempos de nova geração, e que pese 100 kg a mais, e poderá ver as tais saídas serem inundadas antes mesmo de os tripulantes subirem a bordo. E isso favorece um círculo vicioso em que a água que entra aumenta ainda mais o peso do barco, fazendo com que as entradas afundem ainda mais, terminando com um naufrágio. Adição de peso extra em um barco de qualquer porte deve sempre ser feita com parcimônia e cuidado. 

9 – A crise no cockpit

Grande parte da diversão a bordo ocorre no cockpit. Pense na pesca, preparo para esquiar ou fazer wake e na socialização com os amigos. Mas inundações podem acabar com a festa antes mesmo dela começar. Pequenas lanchas de bordas baixas podem facilmente ser inundadas se forem atracadas com a popa em direção às ondas e em condições meteorológicas adversas, sobrecarregando o sistema de bombas de porão.

Surpreendentemente, há uma infinidade de afundamentos devido ao vazamento das ferragens de cockpit destinadas a drenar a água para fora. Muitas vezes, as mangueiras passam por locais de difícil acesso, o que dificulta inspecioná-las. Drenos limpos, capas de cobertura para o cockpit e vigilância durante tempestades podem evitar que um aguaceiro se transforme em um desastre.

10 – Xiiii…

Por fim, há a lista de erros bestas, como esquecer de fechar o dreno ou deixar a mangueira de água doce ligada dentro do cockpit, e que aumentam a lista de barcos afundados anualmente. Esses erros podem ser evitados por meio da manutenção de hábitos salutares, como sempre checar se há entrada de água depois de descer o barco na rampa, fechar a tampa do filtro após limpá-lo e usar mangueiras com bicos que se fecham automaticamente quando não apertados. Lave o convés ao menos uma vez por ano, usando uma lavadora de pressão para verificar vazamentos imperceptíveis no dia a dia. Qualquer vazamento cujo destino seja o porão deverá ser consertado imediatamente. Por fim, coloque a mangueira no porão para testar se o automático e a bomba estão funcionando.